Confesso que não sei muito bem porque tenho um blog que ninguém lê. A verdade é que estou tão farta de tudo que se torna difícil encontrar-me. Nesta cidade não consigo pensar. Tenho cada vez mais saudades da minha amada Évora de onde parti aos 23 anos. Na altura estava desejosa de sair, pois devido às dificuldades e limitações da vida nunca o pude fazer. Sempre sonhei que depois do curso na mão o limite seria nada... Agora sou professora, vivo em Lisboa e dou por mim exatamente com as mesmas angústias com a agravante de ter 35 anos e os sonhos terem prazo de validade, se tivermos em conta que com 35 anos esta sociedade considera-nos velhos demais para mudar, chegando mesmo a dizer que é ridículo e difícil fazê-lo. A minha profissão não é a minha paixão. E onde me leva ela? Neste momento a lado nenhum... Mas há momentos em que acredito que vou conseguir realizar os meus sonhos. Tenho quase vontade de desistir, mas depois há momentos como o de hoje. Fui à Gulbenkian ver a exposição sobre o nosso Fernando Pessoa "Plural como o universo". É incontornável, a sua mente inquietante inquieta qualquer um. A sua Pluralidade era a sua forma de viver num universo tão cheio de tudo. E passados tantos anos continuamos nesta pluralidade onde as ideias e o pensamento intelectual se perderam em consumo de bens materiais que nada nos trazem para além do imediato... Eu própria me entrego muitas vezes a ele por ser mais fácil, porque pensar pode trazer disabores, porque pensar pode trazer questões superiores que nos deprimem e angustiam.
Num dos expositores podem-se encontrar escritos do poeta e escritor e num dos papéis a frase "Sê plural como o universo". Um simples pensamento tão complexo quanto Pessoa que se encontrou na sua complexa pluralidade. Dei por mim a desejar ser capaz de lidar com a minha inquietude de forma bela e eterna. O que faço é o mesmo que os outros, vivo os dias sempre iguais e esqueço-me de me ouvir. Mas por hoje fico com Pessoa e agradeço a lembrança da minha inquietude.
Vale a pena ir ver, por apenas 4 euros, o génio que foi, o inquieto ser plural Fernando Pessoa.
Liliana do Carmo